A morte do meu pai

Na noite do último sábado de junho de 2021, recebo a notícia do falecimento do meu pai, minha tia, esposa de um dos muitos irmãos dele me avisa e passa a ligação para sua neta, que é advogada, para falar de assuntos mais práticos, como enterro, traslado e posses.

Meu pai sumiu no Norte do País, especificamente na cidade de Apiacás, MT, no final da década de 80 e a última vez em que o vi foi em meados de 1989.

Infelizmente, não tenho muitas lembranças dele e a maioria são de momentos de grande violência contra minha mãe.

Fomos morar com ele em Campo Grande, recém promovida a Capital do novo Estado do Mato Grosso do Sul, numa aventura da minha mãe que quis tentar a vida na região amazônica.

Eu tinha doze anos e ficamos meio ano morando em um dormitório que ele tinha próximo a estação rodoviária.

As memórias se confundem, não me recordo se foi na mesma estadia, mas ele se desfez do dormitório e ficamos um tempo em uma casa mais perto da rodoviária e com um grande terreno vazio ao lado.

Sei que foram vários meses, mas quase não tenho lembranças dele nessa época, nenhuma ruim, apenas um pai normal tentando cuidar de um negócio e 3 filhos que mal conhecia.

Senti uma dose de tristeza no sábado, foram muitos anos sem praticamente lembrar que ele existia, mas saber que efetivamente encontrou um fim trouxe um pouco de alívio pelo encerramento em si.

A prima me passou o contato da assistente social para tentar um traslado do corpo, o que por mim já foi descartado de imediato, pois a causa fatal foi o Covid.

A assistente social parecia curiosa em saber mais sobre a vida anterior do Japão Pescador, mas preferi calar e deixá-la com as recordações de um pioneiro, trabalhador e solitário.

Declinei da tentativa de traslado e orientei para que doasse os bens que ele tinha, assim como a casa recebida em doação da prefeitura.

O enterro seria providenciado pela prefeitura, o que me parece ser o procedimento padrão nas mortes dessa pandemia que divide a população, como tantas outras causas menos nobres e outras tão ou mais importantes.

O luto é inevitável e uma grande tristeza chegou junto com a imagem de uma pessoa solitária, que me lembrou de mim mesmo há algum tempo.

Acredito que tenha encontrado paz nesse período e apaziguado seus demônios, assim como venho lutando com os meus há muitos anos.

Descanse em paz.

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